Perigosa aventura para a liberdade

Emile Hirsch como Christopher McCandless, numa cena de “Na Natureza Selvagem”, adaptação de Sean Penn para o livro de Jon Krakauer

O que faria um jovem de 22 anos, bem de vida, recém-formado com excelentes notas, deixar tudo para trás (inclusive 24.000 dólares, doados para a caridade) e partir, de carona em carona, rumo à solidão no meio do Alasca? Na Natureza Selvagem (Into the Wild, EUA, 2007) conta a aventura real vivida por esse jovem, Christopher McCandless, e dá pistas do que pode tê-lo levado a essa jornada. As respostas não são claras. Dizer que se tratava apenas da rebeldia de um filho com uma conflituosa relação com seus pais é simplificar a razão para tamanha conseqüência. Só Christopher sabia o que fazia — a viagem de isolamento era um fim ou um meio? —, mas ele jamais pôde responder a questões sobre sua drástica decisão de deixar, por mais de dois anos, todos sem resposta sobre seu destino.

O filme não segue o clichê "homem contra a natureza". A natureza do título do filme é mais do que aquela gelada do Alasca, mas principalmente a natureza humana. São relações com pessoas estranhas que constróem o enredo do filme. É ao criar (e desconstruir) essas relações que Christopher dá mostras do que quer fazer e do que quer se tornar. São relações que dão a Christopher a oportunidade de se redescobrir, de reconstruir sua personalidade, como sugerem os títulos que dividem a fita. São diálogos que emocionam, mesmo quando o interlocutor é uma hippie contraditoriamente angustiada ou um velhinho sem mais preocupações em sua vida (velhinho este que rendeu a primeira indicação ao Oscar, de Melhor Ator Coadjuvante, a Hal Holbrook, 82 anos).

O diretor, Sean Penn, que também assina o roteiro e ainda esteve na produção, esperou 10 anos para fazer o filme, tempo necessário para que ele tivesse a aprovação da família McCandless. Levar ao mundo um drama familiar como o vivido por ela não deve ser fácil. A história foi muito bem dirigida. Emile Hirsch, no papel do protagonista, faz um excelente trabalho. Na construção do personagem, chegou a perder cerca de 18 quilos — e nas gravações, não usou dublê em cenas envolvendo corredeiras, escaladas e até um urso. Faz participação especial a última pessoa a ver Christopher antes de ele se embrenhar pelo Alasca, Jim Gallien, no papel dele próprio, no início do filme.

Essa aventura biográfica do tipo road movie, mas não menos dramática, teve ainda outra indicação ao Oscar, pela edição. No Globo de Ouro, levou o prêmio de Melhor Canção Original (Guaranteed, de Eddie Vedder, do Pearl Jam). Foi indicado também pelo sindicato americano dos roteiristas para o prêmio de melhor roteiro adaptado — o livro que deu origem ao filme, Na Natureza Selvagem: a Dramática História de um Jovem Aventureiro, de Jon Krakauer, é vendido no Brasil.

Na Natureza Selvagem
Direção e roteiro (baseado no livro de Jon Krakauer): Sean Penn; direção de fotografia: Eric Gautier; edição: Jay Cassidy; trilha sonora: Michael Brook, com canções e música adicional de Eddie Vedder e Kaki King; desenho de produção: Derek R. Hill; produção: Sean Penn, Art Linson and Bill Pohlad; companhias produtoras: Paramount Vantage, Art Linson Productions, Into the Wild, e River Road Entertainment. Duração: 2h20min.
Com: Emile Hirsch (Chris McCandless), Marcia Gay Harden (Billie McCandless), William Hurt (Walt McCandless), Jena Malone (Carine McCandless, a narradora), Brian H. Dierker (Rainey), Catherine Keener (Jan Burres), Vince Vaughn (Wayne Westerberg), Kristen Stewart (Tracy Tatro), Hal Holbrook (Ron Franz).
Censura: 12 anos (cenas de insinuação sexual).
Em cartaz até quinta-feira, às 19h, no Cinema de Arte (Shopping Iguatemi).
Nota do BdI: 9


O verdadeiro Christopher McCandless em seu "ônibus mágico", em foto tirada por ele e encontrada num filme não revelado em suas coisas: "Felicidade só real quando compartilhada"

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